"Uma só panela"

María Marta casou com Laureano Mones Cazón, em Buenos Aires. Pablo, um dos seus filhos, foi ordenado sacerdote. Partilham ambos um objetivo comum: ser santos.

Toda a família após a ordenação sacerdotal de Pablo.

María Marta casou com Laureano Mones Cazón, em Buenos Aires. Estudou turismo, e decidiu dedicar-se por completo ao cuidado da família. Agora trabalha num colégio. Pablo, um dos seus filhos, foi ordenado sacerdote. Partilham ambos um objetivo comum: ser santos. Nesta entrevista, mãe e filho respondem às mesmas perguntas acerca do ideal de vida que, pela mão de São Josemaria, tentam seguir.

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São Josemaria costumava explicar que tinha "uma só panela para todos", cujo conteúdo é a busca da santidade no meio das ocupações habituais. Dessa panela podem alimentar-se o pai e a mãe de família, o engenheiro, o advogado, o operário e também o sacerdote... Assim explica o Padre Pablo:

“Na minha casa comemos sempre todos da mesma coisa. Parece-me que na vida cristã acontece algo idêntico; dão-nos a todos o mesmo “alimento”: a oração, os sacramentos… Nunca me chamou a atenção a piedade dos meus pais, mas sim a sua confiança em Deus. Com o tempo, descobri que todos os dias tinham um tempo para fazer oração. Devo a eles noventa por cento da minha vocação, e – agora como sacerdote – espero apoiar-me sempre em Deus, como eles; se não, as coisas não saem.”

- Que significa “procurar a santidade na vida cotidiana”?

María Marta: Santificar o trabalho é fazê-lo para Deus, oferecendo-lho quando me agrada e quando me canso e me apeteceria deixar tudo... Tento continuar até terminar porque Jesus assim o fez por mim: de vez em quando olho para um crucifixo que tenho sobre a mesa e digo-lhe: ajuda-me neste assunto que tenho em mãos. Santificar o trabalho é trabalhar com Deus.

Padre Pablo: Sei que o meu trabalho como sacerdote depende de Deus. Contudo, tenho de lutar para que os meus defeitos não sejam um obstáculo. É como preparar bem uma receita de cozinha. A panela é de Deus, mas se me dá a preguiça, o capricho, o mau caráter... queima-se o que está na panela, e acabou-se a festa... Se luto por ser pontual, aprender, estudar, sorrir… aparece “a panela de Deus”, que é ótima e encanta as pessoas. Querem mais! A receita está no Evangelho e eu procuro aprender com um "chef" fantástico que é São Josemaria.

- São Josemaria dizia que não há santo sem oração: como concretiza isso no seu dia a dia?

Padre Pablo: Tento “ser piedoso”, não porque sinta gosto em rezar, mas porque gosto de me aproximar cada vez mais de Deus. Tenho lido e visto em vídeos como São Josemaria falava e amava Jesus, a Virgem Maria, São José. Procurava descobrir o que lhes agradava e atuava em conformidade.

Por isso, converso com Jesus bem cedo e preparo-me para a Missa: quero que veja que o ponho em primeiro lugar. Depois tento trabalhar com ordem para aproveitar melhor o tempo, que é sempre pouco. Rezo a liturgia das horas. Mais tarde rezo o terço e falo a Nossa Senhora de muita gente que me é querida, do Papa, da Igreja... Às vezes rezo outro terço, porque Ela faz mais do que eu nesses dez minutos.

María Marta: Procuro conversar com Deus durante o dia. Concretamente, quando me levanto ofereço o dia a Deus; durante o caminho até o colégio, rezo o terço. Quando chego ao colégio vou à capela para fazer um tempo de oração antes de participar da Missa. Este é o melhor momento do dia. Ao meio-dia rezo o Angelus com as minhas colegas de trabalho. Depois, quando volto do almoço passo na capela para cumprimentar Jesus no sacrário e no regresso a casa vou contemplando os mistérios do rosário que não rezei de manhã. Ao fim da tarde, leio umas páginas de um livro que me ajuda e, antes de me deitar, faço um rápido exame de consciência, rezo umas Ave-Marias... e cama.

María Marta com dois dos seus seis netos

- Mas o ideal é muito elevado, como não desanimar?

María Marta: Com a Confissão. Quantas vezes peço perdão? Milhares de vezes em cada dia, embora me confesse uma vez por semana. A Confissão ajuda muito a descomplicar-me: vira-se a página, e nova conta. Dá-me forças para continuar.

Padre Pablo: Confesso-me todas as semanas. Estou certo de que se me tivesse casado teria de pedir perdão mais vezes. Estou longe de ser santo, e Deus “é muito santo” comigo, como não vou pedir perdão pela minha falta de generosidade? Penso que é o mínimo que posso fazer. Cada vez que me confesso sinto-me reanimado... Pela sua paciência e pelo muito que me ama.

- Uma vida assim é digna de ser partilhada...

María Marta: Sim. Na verdade não faço nada de “especial” para que as minhas amigas se aproximem de Deus. Procuro ser boa amiga, isso sim. Por vezes prestando algum favor, como elas, aliás, fazem comigo. Falamos das nossas coisas e do modo de resolver os problemas. Com Deus, a vida torna-se mais simples, por isso vejo que posso ajudá-las compartilhando a minha fé, dizendo-lhes coisas que talvez as ajudem. Elas sabem que arranjo uns momentos para falar com Deus, e às vezes convido alguma para me acompanhar e conto-lhes como faço oração, que livro estou lendo...

Padre Pablo: Quando nos aproximamos de Deus, “acendemo-nos” por dentro sabendo que há gente que não o conhece. Por isso, em primeiro lugar, peço-lhe que mais pessoas se aproximem d’Ele. Queria que conhecessem Jesus até aos últimos confins da China. Então procuro estar cada dia mais perto de Deus, e aproveito a Missa (aí também chego até à China). Depois, procuro ser um amigo melhor, arranjar tempo para os ver, como vão, e ajudá-los como eles me ajudam.

O resto é Deus que o faz, e cada um. Na Argentina, quando queremos dizer que as pessoas não são tontas e sabem o que vale a pena, dizemos que “as pessoas não comem vidro”. Todos querem ser felizes... e Deus sabe o que é melhor para cada um.

Ao centro, Laureano, com os seus seis filhos homens. Desta vez, não aparecem as mulheres da família: María Marta - a mãe - e María, a única filha...

- Qual o aspecto da mensagem de São Josemaria que mais te atraiu?

María Marta: Conheci o Opus Dei quando tinha 19 anos, através de uma amiga mais velha, que tinha muitos, muitos problemas familiares, e o que mais me chamou a atenção é que nunca perdia a alegria. Além de tudo o que fazia, rezava bastante...muito mais do que eu. Ensinou-me a fazer todos os dias um tempo de oração. Mostrou-me com a sua vida que comprometer-se a sério a ser santa, boa filha de Deus, era compatível com uma vida de casada, com filhos, trabalhando, convivendo com os amigos, no descanso, e estar sempre alegre também em momentos de dor.

Padre Pablo: Talvez me tenham atraído mais as pessoas do que a mensagem, porque tinha 14 anos. Os meus pais tinham-me ensinado que, quando ia a casa de um amigo, tinha de cumprimentar primeiro os pais dele. Quando fui pela primeira vez a um centro do Opus Dei, perguntaram-me se queria cumprimentar o “dono da casa”. Disse que sim, pensando em alguém que dirigia esse centro, mas levaram-me à capela onde estava o sacrário com a Eucaristia, Jesus Cristo.

Era gente normal, que acreditava no que dizia e queria vivê-lo. Percebi que tratavam Deus como alguém que estava muito perto. Depois conheci melhor São Josemaria, um padre muito pai. Um homem como todos e, ao mesmo tempo, um santo. Com Deus consegue-se sempre.