11. Alegrias, dores, esperanças

“Sabeis por que é que a Obra se desenvolveu tanto? Porque fizeram com ela como com um saco de trigo: bateram-lhe, maltrataram-na, mas a semente é tão pequena que não se rompeu; pelo contrário, espalhou-se aos quatro ventos...”

Desde os começos do seu trabalho apostólico, São Josemaria tinha dado realce à dignidade do matrimonio e recordou com vigor que o casamento é uma vocação divina e um chamamento à santidade. Já no n. 27 de Caminho tinha escrito:

“Ris-te porque te digo que tens “vocação matrimonial”? Pois é verdade: assim mesmo, vocação. Pede a São Rafael que te conduza castamente ao termo do caminho, como a Tobias”.

”Para o cristão, o matrimonio – afirmava em Cristo que passa - não é uma simples instituição social e menos ainda um remédio para as fraquezas humanas; é uma autêntica vocação sobrenatural. Sacramento grande em Cristo e na Igreja, como diz S. Paulo, e, ao mesmo tempo e inseparavelmente, contrato que um homem e uma mulher fazem para sempre, pois, quer queiramos quer não, o matrimonio instituído por Jesus Cristo é indissolúvel, sinal sagrado que santifica, ação de Jesus que invade a alma dos que se casam e os convida a segui-Lo, transformando toda a vida matrimonial num caminhar divino pela Terra. Os casados são chamados a santificarem o seu matrimonio e santificarem-se nessa união”.

Experimentou uma grande alegria quando, nos anos cinquenta, se encontrou o caminho jurídico para que as pessoas casadas fizessem parte do Opus Dei, e logo que foi possível, organizou-se um retiro espiritual em Molinoviejo, casa de retiros perto de Segóvia, em que participaram muitas pessoas que desejavam entregar-se plenamente a Deus, no matrimonio.

São Josemaria com dois dos seus filhos de Irlanda e Equador

Reação ante as incompreensões

Nosso Senhor permitiu que sofresse fortes contradições durante esses anos. São Josemaria resolvia-as recorrendo à graça de Deus e à proteção maternal da Virgem Maria. Sabia que o Senhor escreve direito por linhas tortas e que se serviria daquelas ocorrências para difundir o Opus Dei por toda a terra.

“Sabeis porque é que a Obra se tem desenvolvido tanto? Porque a trataram com se fosse um saco de trigo: deram-lhe pancadas, maltrataram-na, mas o grão é tão pequeno que não se partiu; pelo contrário, espalhou-se aos quatro ventos, caiu em todos as encruzilhadas humanas, onde há corações sedentos de Verdade, bem dispostos e agora temos tantas vocações e somos uma família numerosíssima e há milhões de almas que admiram e amam a Obra, porque veem nela um sinal de Deus entre os homens, porque reconhecem essa misericórdia divina que não se esgota”.

Reagia ante as incompreensões com sentido da caridade e da justiça, com amor à verdade e coração grande. Era isto que aconselhava perante circunstâncias similares que se apresentam, em maior ou menor grau, na vida de todos os homens:

- “Não julgues os outros;

- não ofendas nem sequer com a dúvida;

- afoga o mal em abundância de bem;

- semeia lealdade, justiça e paz;

- passa por alto as interpretações retorcidas;

- fala quando vires em consciência que deves falar;

- perdoa, sempre, rapidamente, e com um sorriso nos lábios;

- e deixa tudo nas mãos do nosso Pai Deus”.

15 de Agosto de 1951 em Loreto

Casa do santuário de N. Sra. do Loreto

Como contam com pormenor as biografias do fundador, sempre que se via no meio de dificuldades sérias, recorria à intercessão da Mãe de Deus. Uma data importante para a história do Opus Dei foi o dia 15 de Agosto de 1951, festa da Assunção de Nossa Senhora. Nesse dia o fundador consagrou em Loreto o Opus Dei ao Dulcíssimo Coração de Maria, suplicando à Mãe de Deus que conservasse firme e seguro o caminho do Opus Dei. Renovou essa consagração a Nossa Senhora em diferentes santuários marianos do mundo: Lourdes, Fátima, Pilar, Einsiedeln, Willesden, Pompei, Guadalupe, Medalha Milagrosa em Paris… “O nosso Opus Dei nasceu – gostava de recordar – e desenvolveu-se sob o manto de Nossa Senhora. Por isso são tantos os costumes marianos que empapam a vida diária dos filhos de Deus nesta Obra de Deus”.

O recurso a meios sobrenaturais foi uma constante na sua vida. Por exemplo, em 1951 decidiu consagrar as famílias dos membros do Opus Dei à Sagrada Família de Nazaré por motivo da incompreensão que existia entre alguns pais de famílias de Roma acerca da entrega a Deus dos seus filhos.