Entrevista a Pippo Corigliano

Giuseppe Corigliano, Pippo Corigliano, como é conhecido no meio jornalístico italiano, diretor do gabinete de imprensa do Opus Dei em Itália, viveu como protagonista os dias da canonização de Josemaria Escrivá.

Participou muito ativamente na preparação da cerimônia da canonização do fundador do Opus Dei, concretamente no contacto com os meios de comunicação social.

Que representou para si ter colaborado neste acontecimento?

Quando se participa na preparação de um evento, como o da canonização, corre-se o risco de não o viver com a profundidade que merece. O empenho colocado na organização tinha absorvido a minha atenção até ao momento da celebração da Santa Missa. Enquanto tentava concentrar-me na ação de graças depois da comunhão, Giovanni Minoli, um conhecido diretor da RAI que seguia a cerimônia a meu lado, sussurrou-me "Olha, Pippo!". Levantei a cabeça e, do alto do altar, vi a praça invadida por guarda-chuvas brancos que acompanhavam o Santíssimo para a Comunhão. Era um espetáculo nunca visto, que inspirava uma profunda devoção. Pareceu-me que o amor do nosso Padre à Eucaristia, e o profundo sofrimento dos seus últimos anos pelos erros teológicos, pela falta de fé e de respeito para com este sacramento, se manifestavam naquela cena. Era um sinal da Providência, que premiava a fidelidade do nosso Padre. Esta é a recordação mais tocante.

Que salientaria dessa experiência?

Uma frase. A de João Paulo II depois da Santa Missa de ação de graças do dia seguinte: "Obrigado por tudo quanto fazeis pela Igreja". O doce Cristo na terra agradecia ao nosso Padre e a nós, que tivemos a felicidade de segui-lo. Foi como uma carícia do Senhor para esta bela família da Obra.

Qual a repercussão internacional da canonização do fundador do Opus Dei na opinião pública? Como resumiria a reação dos meios de comunicação antes, durante e depois do acontecimento?

Todos sabemos que os media têm dificuldade em compreender a simplicidade evangélica do espírito da Obra. Prevalecem muitas vezes interpretações políticas ou maliciosas. Porém, naquele dia, inesperadamente e em todo o mundo, todos emudeceram e elaboraram as notícias da canonização com muito respeito. A televisão italiana seguiu o evento com uma direção exemplar e transmitiu um esplêndido espetáculo de fé. Particularmente os comentários de Vittorio Messori chamaram a atenção para o silêncio absoluto e impressionante durante a Consagração e salientaram, sucessivamente, a ordem com que se desenrolava a celebração e como, terminada a cerimônia, ficou limpa a Praça de São Pedro.

Que artigos lhe deram maior alegria? Houve notícias à volta do evento que o desgostaram?

Agradou-me o título do Corriere della Sera: "Festa de Escrivá, santo de jovens e da classe média”, tanto que escolhemos esse artigo para a contracapa de uma bonita publicação que fizemos logo depois. La Repubblica publicou um artigo em que uma jornalista fazia ironia quanto às numerosas mães, elegantes e com colares, rodeadas de muitos filhos, que iam confessar-se. Fiz notar ao diretor do jornal que aquele tom estava deslocado. No dia seguinte publicou duas boas entrevistas com políticos italianos que tinham participado na cerimônia.

Teve oportunidade de conhecer pessoalmente São Josemaria. Quando é que o conheceu? Que chamou a sua atenção? Pode dizer que deixou algum rasto na sua vida?

Conheci-o em 1961 e vi-o pela última vez em 31 de Março de 1975. Nessa altura disse-me uma frase que é como um resumo de quanto dele aprendi: “O pior que poderia acontecer ao Opus Dei é que não se notasse que nos queremos”. O nosso Padre fez-me compreender que Jesus não é um catecismo, é amor vivido.

Como descreveria a experiência de ter conhecido um santo? Pensava que algum dia poderia vê-lo nos altares?

Nunca tive qualquer dúvida quanto à sua santidade. Fazia o que podia para estar o mais tempo possível com ele: não porque sou napolitano, mas porque estava convencido de que era um santo e que perder uma ocasião de escutá-lo e de o ver era um pecado. Vê-lo nos altares parece-me uma coisa justa, mas o que mais quero é vê-lo no meu coração. Quando vejo um dos seus encontros filmados, parece dizer-me: “Pippo, tens de começar do zero!”

Em sua opinião, qual é o contributo mais significativo do fundador do Opus Dei na vida da Igreja e n mundo em geral?

Em primeiro lugar, uma renovação de santidade em toda a Igreja: uma nova efusão do Espírito Santo. E depois o original e justo enquadramento do papel do leigo, indispensável neste momento da história da Igreja. E, por fim, ter recordado que a fé vivida é viver em família com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, em família com Maria e José, e em família com Jesus e os apóstolos. A Igreja é família, a família de Deus, não é um convento, nem um quartel, nem um mosteiro, nem um colégio. Fiz uma síntese concisa. Poderiam escrever-se bibliotecas inteiras sobre o tema, e estão de fato a ser escritas.

E acerca da função dos jornais ou dos meios de comunicação na sociedade?

Parece-me que quanto a isso temos de melhorar. O nosso Padre foi, por assim dizer, um grande acontecimento cultural. Um novo estilo de vida. Nós próprios, fiéis do Opus Dei, temos de o entender cada vez melhor. Profissionalismo nos meios de comunicação não é só técnica, significa ser culto, conhecer o homem, a sua intimidade, as suas aspirações. Ter experiência de vida e conhecimento da literatura, da história, da filosofia que a humanidade produziu. Profissionalismo não é apenas ser especialistas, mas ser pessoas completas.