O artista reza com as mãos

“In cammino con Cristo” é o título da exposição do artista Romano Cosci, inaugurada a 20 de Março na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma. Publicamos aqui umas breves palavras de Cosci.

"Falo com as mãos"

São três horas da tarde. A exposição de arte sacra de Romano Cosci ocupa o luminoso corredor do primeiro piso do “palazzo”, sede da Universidade Pontifícia da Santa Cruz. O artista dispõe-se a comentar algumas obras de S. Josemaria. Mas faz uma pausa antes de começar:

"Não sei falar com palavras, costumo dizer que falo com as mãos. São o instrumento que Deus me deu para me expressar.”

Talvez por isso o atraem tanto as mãos de São Josemaria?

“Sim. Desde o princípio. Tinha umas mãos muito expressivas, delicadas e, ao mesmo tempo, enérgicas. Mãos que exprimem força e elegância. Mas, principalmente, chamam-me a atenção as mãos de São Josemaria em atitude de oração.”

"Tinha umas mãos muito expressivas, delicadas e, ao mesmo tempo, enérgicas. Mãos que exprimem força e elegância. Mas, principalmente, chamam-me a atenção as mãos de S. Josemaria em atitude de oração"

Cosci mostra-nos uma escultura das mãos de Josemaria Escrivá, com um terço.

“De São Josemaria aprendi que eu podia rezar com as minhas mãos, enquanto desenho, pinto ou faço uma escultura. E assim faço – ou tento fazer – todos os dias. Penso que cada um, com as suas limitações e com os seus talentos, deve dar o máximo. Tenho muitas limitações, mas também dou graças a Deus por me ter dado o dom das artes plásticas. Um talento limitado – não sou um Miguel Ângelo – mas que tenho de fazer render.

Observou muitas imagens – fotografias ou gravações – e leu textos do fundador do Opus Dei. Que “lhe disse” pessoalmente a figura de Josemaria Escrivá?

Gosto da mensagem de São Josemaria porque não deixa ninguém de fora, precisamente por este fato: todos podemos santificar o trabalho. Entendo-o como colocar o maior empenho no que fazemos, oferecendo-o a Deus. São Josemaria “disse-me” que cada um tem de descobrir esses dons que Deus lhe deu: para alguns será a palavra falada, para outros, a pesquisa ou a arquitetura ou o jornalismo… Seria uma injustiça dizer: como tenho pouco talento, então não faço nada. Todos podemos fazer com que o nosso trabalho seja oração. Todos podemos ser santos.”

Mestre Cosci caminha pelo corredor da exposição, seguindo as obras de arte com ordem, “didaticamente”, como diz. Detém-se diante de um primeiro carvão, e depois diante de uma aquarela com o mesmo desenho, mais bem acabado.

“Expus assim para mostrar a quem não se dedica a isto como é o processo até chegar ao mármore. Gosto de mostrar que a escultura é um processo. Exige paciência, constância… Não sai à primeira.

Miguel Ângelo, seu colega, dizia que bastava descobrir a figura que já estava no pedaço de mármore...

Romano Cosci nasceu em Seravezza (província de Lucca, norte de Itália) em 1939. Trabalha em Pietrasanta, povoação perto de Carrara, famosa pela qualidade dos seus mármores. Há mais de vinte anos D. Álvaro del Portillo encomendou-lhe uma estátua do fundador do Opus Dei. Desde então, fez numerosas obras de arte sobre S. Josemaria, em pintura e escultura. A mais importante encontra-se na Basílica de S. Pedro, em Roma

"Isso é o que dizem – responde sorrindo. Penso que, se o dizia, era para dar importância à obra, e não a ele. Uma obra de arte é trabalho humano. Quero dizer que o artista também se cansa. Li as cartas de Miguel Ângelo em que ele descreve o que sofreu, o que transpirou...

Para conseguir fazer um pequeno detalhe é preciso dedicação. É verdade que o trabalho também dá prazer, mas nem todos os momentos são assim. As pessoas às vezes pensam que um artista é uma pessoa que faz grandes maravilhas logo à primeira. Enganam-se. O trabalho do artista é tão "trabalho" como outros. "É travagliato", trabalhoso e gostoso ao mesmo tempo".