"Falo com as mãos"
São três horas da tarde. A exposição de arte sacra de Romano Cosci ocupa o luminoso corredor do primeiro piso do “palazzo”, sede da Universidade Pontifícia da Santa Cruz. O artista dispõe-se a comentar algumas obras de S. Josemaria. Mas faz uma pausa antes de começar:
"Não sei falar com palavras, costumo dizer que falo com as mãos. São o instrumento que Deus me deu para me expressar.”
Talvez por isso o atraem tanto as mãos de São Josemaria?
“Sim. Desde o princípio. Tinha umas mãos muito expressivas, delicadas e, ao mesmo tempo, enérgicas. Mãos que exprimem força e elegância. Mas, principalmente, chamam-me a atenção as mãos de São Josemaria em atitude de oração.”
Cosci mostra-nos uma escultura das mãos de Josemaria Escrivá, com um terço.
“De São Josemaria aprendi que eu podia rezar com as minhas mãos, enquanto desenho, pinto ou faço uma escultura. E assim faço – ou tento fazer – todos os dias. Penso que cada um, com as suas limitações e com os seus talentos, deve dar o máximo. Tenho muitas limitações, mas também dou graças a Deus por me ter dado o dom das artes plásticas. Um talento limitado – não sou um Miguel Ângelo – mas que tenho de fazer render.
Observou muitas imagens – fotografias ou gravações – e leu textos do fundador do Opus Dei. Que “lhe disse” pessoalmente a figura de Josemaria Escrivá?
Gosto da mensagem de São Josemaria porque não deixa ninguém de fora, precisamente por este fato: todos podemos santificar o trabalho. Entendo-o como colocar o maior empenho no que fazemos, oferecendo-o a Deus. São Josemaria “disse-me” que cada um tem de descobrir esses dons que Deus lhe deu: para alguns será a palavra falada, para outros, a pesquisa ou a arquitetura ou o jornalismo… Seria uma injustiça dizer: como tenho pouco talento, então não faço nada. Todos podemos fazer com que o nosso trabalho seja oração. Todos podemos ser santos.”
Mestre Cosci caminha pelo corredor da exposição, seguindo as obras de arte com ordem, “didaticamente”, como diz. Detém-se diante de um primeiro carvão, e depois diante de uma aquarela com o mesmo desenho, mais bem acabado.
“Expus assim para mostrar a quem não se dedica a isto como é o processo até chegar ao mármore. Gosto de mostrar que a escultura é um processo. Exige paciência, constância… Não sai à primeira.
Miguel Ângelo, seu colega, dizia que bastava descobrir a figura que já estava no pedaço de mármore...
"Isso é o que dizem – responde sorrindo. Penso que, se o dizia, era para dar importância à obra, e não a ele. Uma obra de arte é trabalho humano. Quero dizer que o artista também se cansa. Li as cartas de Miguel Ângelo em que ele descreve o que sofreu, o que transpirou...
Para conseguir fazer um pequeno detalhe é preciso dedicação. É verdade que o trabalho também dá prazer, mas nem todos os momentos são assim. As pessoas às vezes pensam que um artista é uma pessoa que faz grandes maravilhas logo à primeira. Enganam-se. O trabalho do artista é tão "trabalho" como outros. "É travagliato", trabalhoso e gostoso ao mesmo tempo".